Seguidores: é só clicar em seguir! Não precisa ter blog, só qualquer end. do Google.

domingo, 17 de junho de 2012

Roteiro de Casamento na roça



Emílio Carlos
PERSONAGENS
Chiquinha (noiva)
Flavinho (noivo)
Nhô Bento (pai da Chiquinha)
Nhá Rita (mãe da Chiquinha)
Nhô Pedro (pai do Flavinho)
Nhá Dita (mãe do Flavinho)
Reginardo – irmão 1 da Chiquinha
Abelardo – irmão 2 da Chiquinha
Padre
Convidados do casamento

NARRADOR – Lá pras banda do paior grande havia uma moça pra lá de bunita chamada de Chiquinha.
(Chiquinha entra e senta num pedaço de tronco de árvore)
NARRADOR – Todas tarde a Chiquinha se assentava pra ouvir os passarinho cantá.
(Sonoplastia: canto de passarinhos)
NARRADOR – Por ali também morava o Fravinho.
(Entra o Flavinho)
NARRADOR – Todas tarde o Fravinho vinha e se assentava pra ouvir... a Chiquinha suspirá.
CHIQUINHA – (suspira) Ai, ai.
NARRADOR – Suspira de cá, suspira de lá...
CHIQUINHA – (suspira) Ai, ai...
FRAVINHO – (suspira) Ai, ai...
NARRADOR – (suspira)... ai, ai – até que um dia de tanto suspira...
(Os dois aproximam o rosto um do outro)
CHIQUINHA – (suspira) Ai, ai...
FRAVINHO – (suspira) Ai, ai...
NARRADOR - ... os dois acabaram por se beijá.
(Flavinho beija o rosto de Chiquinha, que fica com vergonha e ri)
CHIQUINHA – (ri envergonhada)
NARRADOR – Nessa hora por ali passava o Nhô Bento, pai da Chiquinha, que viu tudo.
NHÔ BENTO – Eu vi tudo!
(Chiquinha e Flavinho se levantam na hora)
CHIQUINHA – Papai!
FRAVINHO – (com medo) Nhô Bento!
NHÔ BENTO – Se bejô tem que casá.
NARRADOR – Nhô Bento era um homi muito dos bravu. O Fravinho inda tentô argumentá:
FRAVINHO – Chiquinha: exprica pro seu pai. Foi sem querer...
NARRADOR – E a Chiquinha respondeu:
CHIQUINHA – Vai sê um casório muitu du bunitu.
NHÔ BENTO – Vá si embora se arrumá que eu vô arrumá a noiva!
FRAVINHO – Ai, ai, ai, ai, ai, ai.
(Nhô Bento carrega Chiquinha pelo braço - vão saindo)
CHIQUINHA – Tchar Fravinho! (manda beijo)
NHÔ BENTO – Bejá é só despois do casamento, minina!
CHIQUINHA – Ô pai...
NARRADOR – O Fravinho ficô desesperado. E foi fala co’a sua mãe.
(Flavinho vai até um dos cantos do palco = sua casa. Chama a mãe)
FRAVINHO – Mãe! Mãe! Acode mãe!
(a mãe sai correndo de casa preocupada)
NHÁ DITA – O que foi meu fio? Onde que te mordeu?
FRAVINHO – Mordeu o que, mãe?
NHÁ DITA – A cobra, meu fio.
FRAVINHO – Não é cobra não, mãe.
NHÁ DITA – Então é onça.
FRAVINHO – Nada disso, mãe. É o Nhô Bento: só porque ele me viu beijando a Chiquinha agora ele qué que eu mi case co’ela.
NHÁ DITA – (espantada) O que ce ta mi contano, meu fio?
FRAVINHO – É issu memo, mãe.
NARRADOR – O Fravinho tinha certeza que a mãe ia defendê ele do Nhô Bento.
NHÁ DITA – (séria) Meu fio.
FRAVINHO – O que, mãe?
NHÁ DITA – Meu fio!
FRAVINHO – O que, mãe?
NHÁ DITA – (abraça o filho) Parabéns, meu fio!
NHÔ PEDRO – (entrando) O qui que ta contecendo aqui?
FRAVINHO – Pai: só porque o Nhô Bento me viu beijando a Chiquinha agora ele qué que eu mi case co’ela.
NHÔ PEDRO – Então é issu?
FRAVINHO – É, pai.
NHÔ PEDRO – Ele qué ti obriga?
FRAVINHO – Qué sim, pai.
NHÔ PEDRO – Pois saiba que ele não pode te obrigá a fazê nada!
FRAVINHO – (feliz) Isso, pai!
NHÔ PEDRO – O Nhô Bento não pode te obrigá a casá!
FRAVINHO – Isso memo!
NHÔ PEDRO – Mas eu posso! Dita: prepara a roupa do noivo!
FRAVINHO – Mas pai...
(Nhá Dita segura o filho pelo braço e os 3 vão saindo)
NHÁ DITA – Cê vai dá um noivo danadu de bunitu, meu fio.
NARRADOR – O casamento foi marcado, estava tudo arranjado. A noiva chegou primeiro e estava uma formosura.
(Entra a Chiquinha vestida de noiva com Nhô Bento, Nhá Rita – sua mãe, e seus 2 irmãos. Música.)
NARRADOR – O padre chegou logo depois.
PADRE – (entra) E cadê o noivo?
CHIQUINHA – (feliz) Já já ele aparece.
NARRADOR – Demorou um pouco mas o noivo apareceu. Veio trazido pelo pai, o Nhô Pedro.
(Entram Flavinho, Nhô Pedro e Nhá Dita e cumprimentam a família da Chiquinha com a cabeça e também o padre. Flavinho vem meio contra-gosto).
FRAVINHO – Oi Chiquinha. Ocê ta bunita....
PADRE – Silêncio! Vamu cumeçá esse casório. Nóis estemos aqui reunidos pruque...
(Enquanto o padre fala Flavinho se abaixa e tenta sair escondido do casamento. O primeiro a ver é o sogro)
NHÔ BENTO – O noivo ta fugino! Pega o noivo!
(Os dois irmãos de Chiquinha correm, pegam Flavinho e o levam de volta até o altar)
FRAVINHO – Socorro! Socorro!
PADRE – Será que agora nóis podi cumeçá? Nóis tamo aqui reunidu pra casá esses dois...
(De novo Flavinho tenta escapar)
NHÁ RITA – O noivo fugiu!
(Os dois irmãos de Chiquinha vão buscar o noivo e o levam arrastado até o altar)
PADRE – (limpa a garganta) Pudemu continuá? Vamu casá Chiquinha cum Fravinho. Chiquinha: ocê aceita o Fravinho como seu esposo?
CHIQUINHA – (apaixonada) Aceito!
PADRE – E ocê, Fravinho: aceita a Chiquinha como esposa?
FRAVINHO – Pode dá resposta até quando?
NHÔ PEDRO – Agora!
NHÁ DITA – Óia bem nos zoinho dela, Fravinho. Ela é tão bunitinha...
(Flavinho olha e Chiquinha pisca os dois olhos várias vezes)
FRAVINHO – Bem...
PADRE – Aceita?
(Chiquinha engancha no braço do Flavinho, deita sua cabeça no ombro dele e lhe dá um grande sorriso)
FRAVINHO – Aceito.
TODOS – Viva! Viva!
PADRE – Agora pode beijá a noiva.
(Os dois se beijam.)
TODOS – Viva! Viva!
FRAVINHO – (com cara de maroto) Gostei. De novo.
(Os dois se beijam de novo)
TODOS – Êêêêê!
NARRADOR – E agora vamu dança, bebê cume a noite inteira. Vamu lá!
(A música aumenta. Dança dos convidados do casamento)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

professores apaixonados

Professores e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela idéia fixa de que podem mover o mundo.
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)